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7 de mar. de 2010

Encontro de Aliança



Encontro de Aliança


Casa Graça e Paz
08 de Março de 2010



19:00h – Oração (Fl 3,18b-20)



19:30h - Formação: A gula

- É próprio do homem amar, como é próprio da luz iluminar... mas há uma espécie de força que nos leva a chafurdar na lama. A grandeza do nosso chamado contrasta clamorosamente com a miséria da nossa situação.

- O homem é bom mas está mal, não é uma doença, mas está doente. Na raiz de todos os pecados está uma doença espiritual chamada filáucia.

- Filáucia (do grego philía+autós) significa amor próprio. Quando este amor próprio é sadio, temos uma filáucia virtuosa incentivada pelo próprio Jesus que disse: “Amai a Deus e ao próximo como a si mesmo”.

- Mas, sendo a doença sempre a perversão da saúde, e o mal a perversão de um bem, também o amor próprio pode ser pervertido, e daí surge uma filáucia doentia, um amor próprio egoísta e fechado para Deus. O diabo não pode criar, mas pode perverter um bem!

- O amor próprio doentio torna-se “amor de si e contra si”, como acontece com o viciado em droga. Ele se entrega ao vício porque se ama, mas vemos logo que se trata de um “amor destruidor”.

- A filáucia gera oito doenças fundamentais, pois são a origem de todas as outras:

Gula (gastrimargia)

Luxúria (fornicação, pornéia)

Avareza (filargyría)

Tristeza

Ira

Acídia

Vanglória (vaidade)

Orgulho (soberba)



- “Que estes pensamentos perturbem ou não a nossa alma, não depende de nós. Mas que eles se detenham ou não se detenham, ou que incitem as paixões ou não as incitem, isso depende de nós” (Evágrio, discípulo direto dos Padres do Deserto, os quais são conhecidos na Igreja como portadores de grande discernimento espiritual).

- Retomada por São Gregório Magno, a lista das oito doenças fundamentais dos Padres do Deserto/Evágrio deu origem à lista dos sete pecados capitais (porque geram outros pecados). A diferença de oito para a sete deve-se ao fato de a soberba ocupar um lugar privilegiado, pois “O princípio de todo pecado é a soberba”(Eclo 10,15). Vejamos:

Vaidade = Vaidade

Avareza = Avareza

Inveja (tipo de tristeza) = Tristeza

Ira = Ira

Luxúria = Luxúria

Gula = Gula

Preguiça ou acídia = Acídia

Soberba = Soberba



- “Muito cuidado com o amor-próprio (a filáucia), mãe de todos os vícios, e que é o amor irracional pelo próprio corpo. Indubitavelmente, dele nascem os três primeiros pensamentos passionais fundamentais: o da gula, o da avareza e o da vanglória, que têm origem nas exigências necessárias do corpo; por eles nasce toda a série de ícios. É preciso, portanto, como se disse, ter cuidado com este amor-próprio (filáucia), e combatê-lo com muita sobriedade; destruído ele, são destruídos todos os pensamentos (as doenças espirituais) que dele provêm (São Máximo).



- A gula é o primeiro filhote da filáucia. E não é um pecadim, mas um pecadão, um pecado capital!!! É uma má inclinação da nossa alma, capaz de gerar muitos outros pecados. Segundo São João Clímaco, a gula tem sua prole: “O meu filho primogênito é o espírito de fornicação; depois dele, em segundo lugar, vem a dureza do coração e em terceiro lugar o sono. Depois, é de mim que provem o mar dos maus pensamentos, as ondas da imundície, o abismo das impurezas desconhecidas e inomináveis! Minhas filhas são a preguiça, o mexerico, o atrevimento, a chacota, a bufonaria, a contestação, a birra, a desobediência, a insensibilidade, a escravidão, a auto-suficiência, a arrogância, o exibicionismo, e depois destas coisas vêm a oração impura, os pensamentos agitados”.

- O primeiro filho da gula é a luxúria, ou seja, os pecados sexuais. Os Santos Padres são unânimes: “Não é possível cair nas mãos do espírito da luxúria (pornéia) se ainda não se caiu por causa da gula”. É algo evidente para eles. Nem todo guloso tem problemas com a castidade, mas todo luxurioso tem problemas de gula. No paraíso o pecado original é apresentado como ato de “comer” o fruto proibido.

- A gula é uma loucura do estômago (= gastrimargia). O pecado em si não está em comer, mas na atitude espiritual, na “loucura” que manifestamos ao comer. Gula não é tanto comida em excesso (também o é), mas uma atitude espiritualmente doentia diante da comida. - O alimento é dom de Deus, mas por causa do pecado original há uma tendência em nós de lidarmos com a comida como se ela tivesse uma finalidade em si mesma... Comer e se esquecer de Deus é um problema, pois desvia o homem da finalidade para a qual foi criado: a vida com Deus.

- O único comportamento saudável perante a comida é a atitude de quem come em ação de graças, vendo na comida um sacramento do Criador.

- A doença espiritual da gula consiste em apegar-se à comida (criatura) e esquecer-se do Criador. Por isso é importante rezar antes das refeições! Santo Agostinho dizia que o homem tende a se esquecer de Deus, como uma noiva que ganha um anel do amado, se apaixona pelo presente e esquece do noivo (adultério).

- Tudo o que hoje julgamos de crimes ecológicos, como o consumismo, enquadra-se no pecado da gula. Também o consumo excessivo de álcool e as drogas.

- “Há muitos que comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus deles é o ventre, a glória deles está no que é vergonhoso. Apreciam apenas as coisas terrenas! Nós, ao contrario, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos como Salvador o Senhor Jesus Cristo” (Fl 3,18b-20).

- A gula tem pois seu caráter idolátrico e como todo pecado, ela gera a morte (Rm 6,23). O salário da gula é uma espécie de morte espiritual, uma demência como:

Alegria inepta: alegria tola, sem fundamento, alucinógena, sobretudo nas duas espécies radicais de gula, o alcoolismo e a toxicodependência.

Escurrilidade: palhaçada. O bom humor é virtude, mas quem foi derrotado pelo estômago e vive uma vida desordenada, pode querer desafogar sua frustração em atos humilhantes e palavras desonrosas. A histrionice nunca foi virtude cristã!

Impureza: Há forte relação entre gula e fornicação, pois ambas tendem a satisfazer o prazer do corpo a qualquer preço, como se o prazer físico fosse suficiente para dar ao homem a verdadeira felicidade. O corpo não pode dar o que é próprio do espírito!

Tagarelice: loquacidade, falar em excesso, superfluamente. São Gregório diz que há um prazer em falar, mas como o de comer, o prazer de falar também precisa ser moderado. O silencio seria um jejum de palavras.

Embotamento da mente: a mente perde sua agudeza, sua capacidade de penetrar na verdade das coisas. A gula nos condena á superficialidade e alma fica pesada. A sonolência logo após as refeições é natural. Mas os santos padres observaram que, mesmo longe das refeições, a sonolência era um sintoma do monge que comia demais, especialmente na hora da oração. O embotamento também manifesta um grave endurecimento do coração, pois quem é guloso não é humilde para ouvir e acolher a Palavra de Deus.



- A virtude da temperança, moderação da comida, bebida e sexo, cura a gula.

- Santo Agostinho: comida, bebida e sexo são realidades que alimentam a vida e possibillitam tanto a sobrevivência tanto do individuo como da humanidade. Porém, logo aí o inimigo busca desordenar para gerar a morte. Daí termos que temperar as energias da vida (comida, bebida e sexo) e ordená-las para Deus e nossa plena realização humana.

- Nesse ordenamento das energias da vida, o jejum e o comer em ação de graças são exercícios muito importantes, pois se o corpo coopera com a gula, então ele também tem que entrar na luta.

- Jejuar não é só passar forme (aneroxia). Para que dê seu fruto, deve ser acompanhado de uma atitude espiritual.

- Também os jejuns devem ser moderados e perseverantes, sobretudo nas quartas e sextas-feiras, como pede a Igreja desde os tempos apostólicos, sendo obrigatório na quarta-feira de cinzas e sexta-feira santa (Didaqué 8,1; CDC 1251 e 1253). Sendo que os jejuns das quartas e sextas-feiras podem ser xenofagicos, ou seja, de abstenção durante o dia de certos alimentos mais substanciosos ou saborosos.

Já o jejum monofagico é mais radical, pois exige apenas uma refeição durante o dia, preferencialmente em um horário tardio.

- Sejamos moderados e perseverantes nos jejuns, pois uma abstinência comedida e constante é melhor do que um jejum excessivo seguido de grande banquete.

- Comer em ação de graças (1Cor 10,31) para que a alimentação não seja algo simplesmente funcional. Fugir da empobrecida cultura do fast food... Celebrar o Deus da Vida junto com a família e irmãos sobretudo nos dias de domingo e solenidade: oração da mesa, mesa com toalha e bem cuidada, comida feita com amor para não ser mera ração animal, sem um atropelar ou esquecer do outro ao preparar o seu prato...

- Além dos jejuns e do comer em ação de graças, também são importantes as vigílias e os trabalhos manuais.

- “Quem não se preocupa em dominar a gula, trava as batalhas espirituais de modo imprudente – alguns ignorando a estratégia do combate, negligenciam o domínio da gula e logo se lançam em batalhas espirituais. Estas pessoas realizam muitas proezas de coragem, mas como o vicio da gula ainda tem domínio, pela sedução da carne perdem tudo o que corajosamente realizaram; e, se não refrearem o ventre, todas as virtudes juntas serão destruídas pela concupiscência da carne” (São Gregorio Magno).



Do livro: Um olhar que cura. Terapia das doenças espirituais. Pe. Paulo Ricardo. Editora Canção Nova, pp. 17-80

Resumido por Pe. Marcos Oliveira



20:30h - Partilha/encaminhamentos por Discipulados/Apostolados Gerais



21:00h - Oração final / avisos

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