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24 de jun. de 2011

Deus Conosco na Eucaristia

 


Deus conosco na Eucaristia



Entre as três Pessoas Divinas, Jesus se destaca por ser Emanuel, o Deus Conosco. Não que o Pai e o Espírito Santo também não estejam conosco, em meio as mais variadas circunstâncias da nossa peregrinação terrestre. É por que no mistério da Santíssima Trindade cada um é identificado por algumas características da sua personalidade e seu modo mais específico de agir.



Enquanto que o Pai é enfatizado mais pelo seu Poder Criador e Providente, e o Espírito Santo como Chama Viva de Amor nas entranhas e em todos os espaços do nosso ser, Jesus é o Enviado do Pai para salvar e pastorear o seu Povo, caminhando lado a lado com a gente e nos livrando de todo mal e estrutura de morte, entregando a sua vida de um modo permanente desde o sacrifício redentor do Calvário, que é atualizado perpetuamente em cada Santa Missa celebrada na liturgia da sua Igreja.



Esta verdade da nossa fé, da presença real de Jesus no meio da gente se verificou pela primeira vez na encarnação, quando Ele, o Logos do Pai, foi concebido por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem e habitou entre nós(Jo 1,14). Desta forma, Jesus foi um acontecimento histórico com lugar e tempo determinados, para que ninguém venha a pensar que foi um fantasma ou um mito, ou uma lenda inventada e reinventada de boca em boca ao longo das gerações. Se a história de Jesus fosse apenas uma lenda, por mais bonita que pudesse ser não teria nenhuma força de salvação, pois o irreal nunca pode interferir no real. Por isso, quando Jesus estava na sinagoga de Cafarnaum, lendo a profecia de Isaías que falava do Salvador da humanidade, ele fez questão de destacar que naquele momento, com a sua presença e ação evangelizadora, estava se cumprindo tudo o que havia sido profetizado, estava sendo iniciado um ano da graça do Senhor, um novo tempo de salvação na história da humanidade (Lc 4 ?).



E Jesus veio para dar a sua existência em resgate de muitos(Mt ?). Por onde passou só fez o bem(At ?). Sua vida foi uma total obediência ao projeto salvífico do Pai, e neste projeto empregou todas as suas forças e entregou todo o seu ser, até o último suspiro na Cruz do Calvário. Amando o Pai e os seus, amou-os até o fim, é o que vai testemunhar o evangelista João cheio de gratidão e admiração ao relatar a sua Paixão, Morte e Ressurreição.



Amando-os, amou até o fim... Quem ama doa a vida pelo amado e quer sempre estar presente e a serviço. Por isso, na sua bondade infinita, Jesus instituiu o Sacramento da sua Vida por ocasião da última Ceia com os seus discípulos, na noite da quinta-feira santa, nas vésperas da sua crucificação.



Naquela noite memorável (anamnese) da quinta-feira santa, quando foi celebrada a primeira Missa da história, Jesus antecipou de forma sacramental o seu sacrifício que iria ser consumado na Cruz, na tarde do dia seguinte, e ao mesmo tempo criou a condição sacramental pela qual iria fazer-se presente em Corpo e Sangue, Alma e Divindade no meio da sua Igreja até o dia da sua segunda vinda.



Após lavar os pés dos seus discípulos, em sinal de que toda a sua vida foi serviço (Jo ?), Jesus tomou o pão, e depois o cálice com vinho, abençoou-os e disse respectivamente: “Tomai e Comei... Tomai e bebei... isto é o meu Corpo...” (Mt Mc Lc).



Corpo e Sangue significam na Bíblia a totalidade de uma Pessoa. O Corpo é exteriorização do espírito desta pessoa na história, e o Sangue a sua vitalidade interna, com o tudo o que significa de força, razão, sentimentos e emoções. Por isso, ao dizer que o Pão e o Vinho consagrados na Missa são seu Corpo e seu Sangue, Jesus está querendo dizer que no conjunto dos dois, e em cada um separadamente, pois Corpo e Sangue vivos de uma pessoa são ontologicamente inseparáveis, Ele se faz presente, ele continua presente e ali nós o temos e o recebemos de um modo não só espiritual, mas real e sacramental.



A esta realidade do Deus Conosco no Pão e no Vinho consagrados, nós chamamos de Eucaristia, pois tudo isto suscita de fato a maior ação de graças que podemos celebrar sobre a face da terra. Deus não só veio uma primeira vez, Deus não só virá uma segunda vez no final dos tempos, Deus permanece conosco.  “Tudo parte, se poderia dizer, do coração de Cristo, que na Última Ceia, na véspera da sua paixão, agradeceu e louvou a Deus e, assim fazendo, com o poder do seu amor, transformou o sentido da morte à qual ia ao encontro. O fato de que o Sacramento do altar tenha assumido o nome "Eucaristia" – "ação de graças" – expressa exatamente isto: que a transformação da substância do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo é fruto do dom que Cristo fez de si mesmo, dom de um Amor mais forte que a morte, Amor divino que o fez ressuscitar dos mortos” (Bento XVI).

É importante destacar dois pontos importantes:



- Deus criou tudo do nada. Todos os seres criados apontam irremediavelmente para o seu Criador e é impossível negar esta verdade evidente na nossa razão. Se Deus teve poder para criar um ser, Ele também tem poder para mudar a substância deste ser. Deus criou o Pão e o Vinho, Ele também tem poder para transformá-lo no Corpo e no Sangue de Jesus. Na oração de epiclese, no momento da consagração, acontece portanto o milagre da transubstanciação, pois o Pão eo Vinho, embora mantenham as aparências, são transformados pelo Espírito Santo no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Nada melhor do que ouvir do próprio Jesus a explicação sobre a essência do Sacramento da Eucaristia. É muito importante se deter na ênfase de cada uma das palavras, para não perdermos de vista o foco. Jesus faz questão de dizer que o Pão e o Vinho consagrados não são um símbolo ou uma simples representação, como alguns dizem por aí. Eles são realmente o seu Corpo e o seu Sangue. A Eucaristia é Jesus Salvador: (Jo 6)


- Jesus Eucarístico é alimento. Pelas palavras ditas pelo próprio Jesus também vemos que a Eucaristia, embora possa ser adorada, e não existe devoção mais sublime na Igreja do que a adoração ao Santíssimo Sacramento, ela foi instituída para ser alimento da nossa alma.

Os pais se dão como alimento para os seus filhos através da sua dedicação, suor derramado para adquirir o pão de cada dia, atenção, zelo, orientação, defesa diante dos problemas, amamentação. Desta forma, os filhos se alimentam da vida dos seus pais sacrificada no amor e no serviço a eles. Os filhos têm a vida dos seus pais, vivem pelos seus pais. Tudo isso só é compreensível na ótica do amor que supera toda lógica e que simplesmente só quer o bem do outro. 

Quando comungamos a Hóstia Consagrada nos alimentamos de Jesus, daquele mesmo Jesus que se encarnou no ventre de Maria, que lavou os pés dos discípulos, que entregou toda a sua vida no projeto salvífoco do Pai, que amou os seus até a morte de Cruz, e que ressuscitou para continuar salvando a humanidade. Por isso Jesus dizia: "O meu Corpo é verdadeira comida e o meu Sangue é verdadeira bebida..."

Na dimensão natural, nós somos aquilo que comemos e ao mesmo tempo os alimentos são transformados em que nós somos. Na dimensão espiritual, a comunhão eucarística nos configura a Cristo Jesus. Jesus mesmo concedeu a Santo Agostinho esta compreensão quando lhe disse numa visão: "Eu sou o alimento dos fortes. Crescei e me terás. Tu não me transformarias em ti, como o alimento do corpo, mas serias tu a seres transformado em mim".

"Enquanto, portanto, o alimento corporal é assimilado pelo nosso organismo e contribui para o seu sustento, no caso da Eucaristia trata-se de um Pão diferente: não somos nós a assimilá-lo, mas esse que nos assimila a si, até que nos tornemos configurados a Jesus Cristo, membros do seu corpo, uma coisa somente com Ele. Essa passagem é decisiva. De fato, exatamente porque é Cristo que, na comunhão eucarística, transforma-nos em Si, a nossa individualidade, nesse encontro, é aberta, liberta do seu egocentrismo e inserida na Pessoa de Jesus, que por sua vez é imersa na comunhão trinitária" (Bento XVI).



 

Pe. Marcos Oliveira



Atualizado em 24/06/11





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Caminhada Discipular



Aprofundar com este texto do papa Bento XVI:



Queridos irmãos e irmãs!



A festa de Corpus Domini [Corpus Christi] é inseparável da Quinta-feira Santa, da Missa in Caena Domini, na qual se celebra solenemente a instituição da Eucaristia. Enquanto na noite da Quinta-feira Santa se revive o mistério de Cristo que se oferece a nós no pão partilhado e no vinho derramado, hoje, por ocasião do Corpus Domini, esse mesmo mistério é proposto à adoração e à meditação do Povo de Deus, e o Santíssimo Sacramento é levado em procissão pelas ruas da cidade e povoados para manifestar que Cristo ressuscitado caminha em meio a nós e nos guia rumo ao Reino dos céus. Aquilo que Jesus nos deu na intimidade do Cenáculo, hoje o manifestamos abertamente, porque o amor de Cristo não é reservado a alguns, mas é destinado a todos. Na Missa in Caena Domini da última Quinta-feira Santa, sublinhei que na Eucaristia acontece a transformação dos dons desta terra – o pão e o vinho – destinada a transformar a nossa vida e a inaugurar assim a transformação do mundo. Nesta noite, gostaria de retomar tal perspectiva.



Tudo parte, se poderia dizer, do coração de Cristo, que na Última Ceia, na véspera da sua paixão, agradeceu e louvou a Deus e, assim fazendo, com o poder do seu amor, transformou o sentido da morte à qual ia ao encontro. O fato de que o Sacramento do altar tenha assumido o nome "Eucaristia" – "ação de graças" – expressa exatamente isto: que a transformação da substância do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo é fruto do dom que Cristo fez de si mesmo, dom de um Amor mais forte que a morte, Amor divino que o fez ressuscitar dos mortos. Eis porque a Eucaristia é alimento de vida eterna, Pão da vida. Do coração de Cristo, da sua "oração eucarística" na véspera da sua paixão, surge aquele dinamismo que transforma a realidade nas suas dimensões cósmicas, humana e histórica. Tudo procede de Deus, da onipotência do seu Amor Uno e Trino, encarnado em Jesus. Nesse Amor está imerso o coração de Cristo; por isso Ele sabe agradecer e louvar a Deus também frente à traição e à violência, e desse modo transforma as coisas, as pessoas e o mundo.



Essa transformação é possível graças a uma comunhão mais forte que a divisão, a comunhão de Deus mesmo. A palavra "comunhão", que nós usamos também para designar a Eucaristia, resume em si a dimensão vertical e aquela horizontal do dom de Cristo. É bela e muito eloquente a expressão "receber a comunhão", referida no ato de comer o Pão eucarístico. Com efeito, quando cumprimos esse ato, entramos em comunhão com a vida mesma de Jesus, no dinamismo dessa vida que se dá a nós e por nós. De Deus, através de Jesus, até nós: uma única comunhão se transmite na Santa Eucaristia. O escutamos há pouco, na segunda Leitura, pelas palavras do Apóstolo Paulo dirigidas aos cristãos de Corinto: "O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos nós comungamos do mesmo pão" (1 Cor 10,16-17).



Santo Agostinho ajuda-nos a compreender a dinâmica da comunhão eucarística quando faz referência a uma espécie de visão que teve, na qual Jesus lhe disse: "Eu sou o alimento dos fortes. Crescei e me terás. Tu não me transformarias em ti, como o alimento do corpo, mas serias tu a seres transformado em mim" (Conf. VII, 10, 18). Enquanto, portanto, o alimento corporal é assimilado pelo nosso organismo e contribui para o seu sustento, no caso da Eucaristia trata-se de um Pão diferente: não somos nós a assimilá-lo, mas esse que nos assimila a si, até que nos tornemos configurados a Jesus Cristo, membros do seu corpo, uma coisa somente com Ele. Essa passagem é decisiva. De fato, exatamente porque é Cristo que, na comunhão eucarística, transforma-nos em Si, a nossa individualidade, nesse encontro, é aberta, liberta do seu egocentrismo e inserida na Pessoa de Jesus, que por sua vez é imersa na comunhão trinitária. Assim, a Eucaristia, enquanto une-nos a Cristo, abre-nos também aos outros, torna-nos membros uns dos outros: não somos mais divididos, mas uma coisa somente n'Ele. A comunhão eucarística me une à pessoa que tenho ao lado, e com a qual talvez não tenha sequer um bom relacionamento, mas também aos irmãos distantes, em todas as partes do mundo. Daqui, da Eucaristia, deriva portanto o sentido profundo da presença social da Igreja, como testemunham os grandes Santos sociais, que foram sempre grandes almas eucarísticas. Quem reconhece Jesus na Hóstia Santa reconhece-o no irmão que sofre, que tem fome e sede, que é forasteiro, nu, doente, encarcerado; e está atento a cada pessoa, compromete-se, de modo concreto, com todos aqueles que estão em necessidade. Do dom de amor de Cristo provém, portanto, a nossa especial responsabilidade de cristãos na construção de uma sociedade solidária, justa, fraterna. Especialmente no nosso tempo, em que a globalização torna-nos sempre mais dependentes uns dos outros, o Cristianismo pode e deve fazer sim que essa unidade não se construa sem Deus, isto é, sem o verdadeiro Amor, o que daria espaço à confusão, ao individualismo, à opressão de todos contra todos. O Evangelho procura sempre a unidade da família humana, uma unidade não imposta do alto, nem por interesses ideológicos ou econômicos, mas sim a partir do senso de responsabilidade de uns com relação aos outros, porque nos reconhecemos membros de um mesmo corpo, do corpo de Cristo, porque aprendemos e aprendemos constantemente do Sacramento do Altar que a partilha, o amor é o caminho da verdadeira justiça.



Retornemos agora ao ato de Jesus na Última Ceia. O que aconteceu naquele momento: Quando Ele disse: Isso é o meu corpo que é dado por vós, isso é o meu sangue derramado por vós e por muitos, o que acontece? Jesus, naquele gesto, antecipa o evento do Calvário. Ele aceita por amor toda a paixão, com o seu sofrimento e a sua violência, até a morte de cruz; aceitando-a desse modo, transforma-a em um ato de doação. Essa é a transformação da qual o mundo tem mais necessidade, porque o redime pelo interior, abre-o às dimensões do Reino dos céus. Mas essa renovação do mundo Deus quis realizá-la sempre através da mesma via seguida por Cristo, aquela via, antes, que é Ele mesmo. Não há nada de mágico no Cristianismo. Não existem atalhos, mas tudo passa através da lógica humilde e paciente do grão de trigo que se quebra para dar vida, a lógica da fé que move as montanhas com a força suave de Deus. Por isso Deus quis continuar a renovar a humanidade, a história e o cosmo através dessa cadeia de transformações, da qual a Eucaristia é o sacramento. Mediante o pão e o vinho, em que está realmente presente o seu Corpo e Sangue, Cristo transforma a nós, assimilando-nos a Ele: envolve-nos na sua obra de redenção, tornando-nos capazes, pela graça do Espírito Santo, de viver segundo a mesma lógica de doação, como grãos de trigo unidos a Ele e n'Ele. Assim se semeiam e vão amadurecendo nos sulcos da história a unidade e a paz, que são o fim e paz a que tendemos, segundo o projeto de Deus.



Sem ilusões, sem utopias ideológicas, nós caminhamos pelas estradas do mundo, levando dentro de nós o Corpo do Senhor, como a Virgem Maria no mistério da Visitação. Com a humildade de saber-nos simples grãos, preservamos a firme certeza de que o amor de Deus, encarnado em Cristo, é mais forte que o mal, a violência e a morte. Sabemos que Deus prepara para todos os homens céus novos e terra nova, em que reinam a paz e a justiça – e na fé entrevemos o mundo novo, que é a nossa verdadeira pátria. Também nesta noite, enquanto se põe o sol sobre essa nossa amada cidade de Roma, colocamo-nos em caminho: conosco está Jesus Eucaristia, o Ressuscitado, que disse: "Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28,20).


Obrigado, Senhor Jesus! Obrigado pela tua fidelidade, que sustenta a nossa esperança. Permanece conosco, porque já é noite. "Bom Pastor, verdadeiro Pão, ó Jesus, piedade de nós; nutri-nos, defendei-nos, levai-nos aos bens eternos, na terra dos viventes!". Amém.



Bento XVI

Santa Missa na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

Quinta-feira, 23 de junho de 2011