Páginas

7 de mai. de 2011

O pão nosso de cada dia

Todos temos consciência de que sendo Jesus O Caminho da Salvação a vida cristã é necessariamente uma caminhada que se realiza historicamente no seguimento dos seus passos. Esta consciência deve, por assim dizer, nunca cair no esquecimento, sob o risco de esquecermos o que é mais importante para nós.

De fato, o próprio Jesus quis deixar isso muito claro na mente dos seus discípulos quando, além de se auto-intitular “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, sempre que encontrava alguém por onde passava, acolhia indiscriminadamente e dizia logo de início: “Vem e segue-me!” No decorrer da caminhada Ele ia explicando tudo com muito amor e carinho, depois o pessoal ia entendendo que quem o segue não pode caminhar nas trevas, porque já possui a luz da vida. Mas logo de início o convite que gerava todo um direcionamento era este: “Vem e segue-me, pois eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.

As primeiras comunidades cristãs entenderam muito bem a essência do cristianismo. O cristianismo sempre foi antes de tudo a religião do seguimento de Jesus de Nazaré. É tanto que antes de serem chamados de cristãos, os discípulos eram conhecidos como seguidores do Caminho, o próprio cristianismo era chamado de Caminho, pois ser cristão era andar no Caminho Jesus. Ou a pessoa entrava nesta caminhada evangélica e era tida como cristã, ou por mais que dissesse que o fosse, mas não desse passos concretos, não era tida como discípula de Jesus. Ser cristão ou era de fato ou não era. Era impossível ser cristão só de nome, pois esta consciência da necessidade de seguir Jesus com passos concretos, de acordo com o que ele havia ensinado, era muito presente na consciência das primeiras comunidades cristãs.

Hoje cada vez mais redescobrimos que ser cristão é seguir Jesus, que ser discípulo significa a mesma coisa que ser seguidor de Jesus, e que quem o segue de verdade não caminha nas trevas porque já possui a luz da vida. E que toda vez que por acaso der um passo fora do Evangelho, deverá voltar para o Caminho da Salvação com os dois pés, sob pena de adentrar por veredas alternativas no mundo que nunca conduzirão para Deus, pois só existe um caminho para o cristão: Jesus de Nazaré!

Nunca podemos perder esta consciência evangélica tão cara para Jesus e as primeiras comunidades cristãs, e que o nosso DJC assumiu desde o início como sendo o miolo da nossa vocação e missão: reavivar e desenvolver integralmente a vida cristã-batismal na perspectiva do seguimento de Jesus. Este é o nosso objetivo geral, e é somente colocando-o em prática que estaremos ajudando a nossa Igreja e o homem de hoje tão tentado ao relativismo, secularismo e satanismo.

O discípulo só cresce numa caminhada discipular, dando passos concretos e sendo acompanhado dentro de uma Fraternidade Cristã. Isto é tão importante para nós que no DJC, os ministérios locais e específicos equivalem a Fraternidades Cristãs. Isto significa que mais do que servir, a pessoa também deve ser orientada para o seu pleno crescimento cristão. Quando acontecer de um ministério ser formado por um ou dois discípulos, então os mesmos devem se juntar com os outros ministérios do mesmo Discipulado ou Apostolado Específico, desde que ao menos a cada quinze dias haja encontros sistemáticos para oração, irmandade, partilha, formação, acompanhamento e encaminhamentos. No DJC, o discípulo só não pode ficar perdido na massa ou só servindo, sem ser verdadeiramente acompanhado no rumo do seu pleno crescimento espiritual. Os DCAs por sua vez, são acompanhados na Fraternidade de Aliança.


O pão da Palavra

A caminhada discipular, para não ficar seca no chão batido dos passos concretos, às vezes em meio a dificuldades que normalmente aparecem na vida de qualquer pessoa, como provações, tentações e crises diversas, deve ser – a caminhada discipular – sempre animada por uma espiritualidade da caminhada.

Como se cultiva realmente tal espiritualidade da caminhada, tão necessária para manter o rumo do Evangelho e conceder força e luz? No episódio dos discípulos de Emaús temos um exemplo dado pelo próprio Senhor Jesus, que é o nosso mestre maior na evangelização, animação e acompanhamento de discípulos.

Os dois discípulos de Emaús estavam tristes e abatidos, desanimados, angustiados e frustrados. Jesus, com quem tinham convivido durante três anos; de quem eram testemunhas de que por onde passara só tinha feito bem com muitio amor, milagres e sinais; Jesus que tinha se tornado a razão da sua existência, fora crucificado e agora estava sepultado. A vida deles já não tinha mais sentido e muito menos força para continuar caminhando. Apesar de Jesus já ter objetivamente ressuscitado dos mortos, para eles ainda estava sepultado, pois ainda não haviam feito a experiência da páscoa da ressurreição. A fé deles ainda estava crucificada...

Eis que Jesus Ressuscitado vai ao encontro deles e começa a pregar a Palavra de Deus com muita unção e parresia. E o coração dos dois, sem que se dessem conta, ia ardendo à medida que Jesus lhes falava. Sua fé ia sendo despertada, sua fé ia ressuscitando. Isto é fundamental. Logo de início, além de ajudar a pessoa a entrar de fato no seguimento de Jesus, temos que dar para ela a Palavra de Deus. Esta Palavra é que vai abrindo caminhos de vida nova, aquecendo, orientando, iluminando e ressuscitando, gerando a nova criatura cheia de esperança e amor.

No DJC, damos esta Palavra principalmente através das pregações do Siloé e nas partilhas das Fraternidades Cristãs. A pessoa vai para um local de acordo com o que aquele local oferece. No DJC, não podemos trair nossa missão. As pessoas devem gostar de vir porque aqui encontram a Palavra de Deus. Se oferecermos tudo, mas não a Palavra de Deus, com o tempo o pessoal pode até vir por causa de outras coisas, mas não por causa da Palavra. E aqueles que gostariam de recebê-la, vão procurá-la em outros lugares. Isto não significa que não podemos ter várias maneiras criativas para pescar novas pessoas ou motivar sempre quem já está na caminhada. Mas uma vez na caminhada discipular, o principal sempre será pregação da Palavra com autoridade e unção, e a Meditação Orante da mesma tanto nos encontros de Fraternidades e ministérios, como no próprio dia-a-dia do discípulos.

A Palavra de Deus pregada ou meditada, deve se transformar em luz para a nossa vida e lâmpada para os nossos passos. Ela deve ser sempre a base e o referencial da nossa formação cristã, bem como o combustível das nossas orações e a espada contra os demônios e suas obras. Isto faz com que nosso DJC não balance de um lado para o outro ao sabor dos ventos que sopram pra todos os lados na sociedade. E para melhorar, nossa vida com a Palavra dá-se dentro do grande horizonte doutrinário da Igreja de Jesus, ela que é coluna e base da verdade.


Por isso, com muita unção e parresia, temos que fazer o melhor para pregar a Palavra de Deus. Isto também inclui repassar para os discípulos nas Fraternidades Cristãs, os temários de MOPDs e a Agenda da Caminhada Discipular. Não pensemos que não podem comprar. O pessoal compra o que acha importante para a sua vida. Se numa Fraternidade uma pessoa não se sente motivada a comprar os temários de MOPDS, ou é porque não foi devidamente orientada ou é porque ainda não entrou realmente no seguimento de Jesus. Isto é muito grave sobretudo quando se trata de um servidor, pois aquele que já deveria estar ajudando os outros, ainda está morrendo de fome e na miséria espiritual, pois não só de pão vive o homem mas de toda a Palavra que vem da boca de Deus.

Em tempo, eu afirmo por experiência própria: a Palavra de Deus, se acolhida com mística, com predisposição interior para mastigá-la e saboreá-la, seja na pregação, seja meditação orante, nunca se torna velha e cansativa, pois ela é sempre uma boa-nova para as atuais circunstâncias da nossa vida. Por isso é necessário orientar os discípulos sobre co modo como deverão acolher a Palavra de Deus, e eles mesmos também vão experimentar que ela é sempre viva, atual e eficaz.

A Meditação Orante da Palavra de Deus, abreviada como MOPD, a sós ou em grupo, é o pão nosso de cada dia da caminhada discipular no DJC.  É importante que o dirigente sempre faça um discernimento sobre como vai encaminhá-la, a fim de haja clima favorável para a sua prática. Às vezes a MOPD é a oração inicial de uma reunião (30 minutos), e às vezes ela é o roteiro mesmo de toda reunião. Neste último caso, a mesma vai além de meia hora, pois normalmente contém um texto de reflexão que ajuda na formação dos discípulos, sempre em sintonia com o texto bíblico que está sendo meditado.

Esta ênfase na MOPD em todos os momentos é importante pois o discípulo de Jeusus deve se aliementar diariamente e ser formado e orientado sempre a partir da própria revelação divina, dentro do horizonte de interpretação da Doutrina da Igreja, para não cair no subjetivismo relativista, o que seria muito prejudicial e destrutivo.

Seja praticada como oração inicial de uma reunião(trinta minutos), seja o próprio roteiro de toda reunião, a MOPD precisa ser bem dirigida, a fim de que tenhamos um cenáculo de oração em torno da mesma, e não uma babel. Infelizmente às vezes o dirigente não traça um direcionamento certo na sua mente e nem divide serviços, aí a MOPD acaba sendo muito atrapalhada. Mesmo quando traçamos algo na mente, devemos conduzir de tal modo que favoreça a espontaneidade no Espírito Santo. Porém, sem direcionamento seguro nenhum, o pessoal fala ou reza pra todo lado, e acaba não construindo uma boa oração comunitária.

O dirigente da MOPD deve dar segurança no determinado momento que está encaminhando, a fim de que os participantes, mesmo com espontaneidade espiritual, vivenciem cada momento da MOPD de modo comunitário, e não de modo individualista, apesar de todos estarem no mesmo local. Cenáculo é unidade de oração na espontaneidade (não desordem) no Espírito Santo. Babel é desordem total, sem aquele espírito de unidade imprescindível para uma sã oração comunitária. Daí ser necessário um roteiro para a MOPD comunitária.

Quando a MOPD é a oração inicial de uma reunião, como já dissemos, normalmente a mesma deve durar em torno de meia hora. Existe um tempo pra cada coisa. Reunião é reunião, não encontro de oração. Nesses casos, propomos o seguinte roteiro:

1)      Acolhida, cântico inicial, Em nome do Pai...

2)      Louvor/adoração e súplica ao Espírito Santo

3)      Leitura e meditação partilhada da Palavra de Deus, sempre em clima de oração

4)       Pai Nosso, Ave Maria, conclusão (continuar com a pauta da reunião)


Quando a MOPD é a própria reunião, então, por natureza, a mesma vai ser mais demorada. Cada momento terá um maior tempo de duração, inclusive poderá haver um texto de reflexão para a formação dos discípulos em sintonia com a perícope da Bíblia que está sendo meditada.

Eis uma propasta de roteiro para MOPD em grupo, quando a mesma ocupa todo o tempo da reunião:

00 - Ambientação / acolhimento personalizado / postura de oração

01 - Salmo

02 - Adoração / louvor / súplica ao Espírito Santo

03 - Leitura bíblica (Escolher uma leitura para cada Meditação Orante. Pode seguir uma série de temas, ou algum temário de MOPDs, ou uma meditação para atenteder uma necessidade específica, ou a liturgia. O coordenador pode aumentar ou diminuir o texto bíblico, de modo que o mesmo contenha sempre uma mensagem por inteiro. Para cultivar a familiaridade com o conjunto da Revelação Divina, é bom que a leitura seja feita diretamente da Bíblia.)  

04 - Meditação orante partilhada / preces espontâneas

05 - Reflexão / formação em sintonia com a Palavra meditada (quando houver)

06 - Oração final
  
07 - Avisos / despedida


Eis um proposta de roteiro para quando a MOPD é praticada individualmente, mas também pode servir para a MOPD comunitária:

0 - Ambiente favorável / postura de oração

1 - Salmo

2 - Adoração / louvor / Súplica ao Espírito Santo

3 - Leitura bíblica (Escolher uma leitura para cada meditação orante durante o dia. Você pode aumentar ou diminuir o texto bíblico na sua oração pessoal. Para cultivar a familiaridade com o conjunto da Palavra de Deus, o bom mesmo é que a leitura seja feita diretamente na Bíblia).

4 - Meditação / ruminação / escuta / rema (Se possível, escrever na Agenda da Caminhada Discipular a inspiração, o rema) 

5 - Preces espontâneas, Pai Nosso, Ave Maria

6 - Conclusão


Vemos que a pregação da Palavra de Deus no Siloé e a Meditação Orante no decorrer da caminhada, seja pessoalmente, seja em grupo, cultiva nos discípulos uma verdadeira espiritualidade cristã de raiz, que se tornará a luz, o sentido e a força para continuar a caminhada mesmo quando sobrevierem dificuldades e perseguições. Sem esquecer que a Palavra de Deus meditada por si só forma e conduz a pessoa para um encontro pessoal com Jesus, a exemplo do que aconteceu com os discípulos de Emaús, que o reconheceram ao partir do pão. 

Finalizamos esta reflexão sobre o pão nosso de cada dia com as sábias palavras de São Bernardo de Claraval, doutor da Igreja:

Guarda a Palavra de Deus: são felizes os que a amam!


Guarda a Palavra de Deus, de modo que ela penetre no mais íntimo de tua alma.


Guarda a Palavra de Deus, de modo que ela penetre nos teus sentimentos e nos teus costumes.


Alimenta tua alma com a Palavra de Deus, e tua alma se deleitará com fartura.


Não esqueças de comer o teu pão, para que teu coração não perca o ânimo, mas sacia tua alma com este alimento saboroso: a Palavra de Deus.


Se guardares a Palavra de Deus, ela, certamente, te guardará!



O modo pelo qual guardamos e comemos a Palavra de Deus é escutando com atenção as Pregações e através da Meditação Orante.  Por isso, mãos e coração à obra, seja acolhendo-a em oração, seja levando-a para os outros com unção e parresia!


Fraternalmente,

Pe. Marcos Oliveira